Ninguém deveria tentar se perpetuar em um cargo, diz novo presidente do conselho do Credit Suisse
Dez anos após assumir comando do Lloyds em meio à crise que abalava instituição, António Horta-Osório aceita novo desafio ao substituir Urs Rohner enquanto escândalos no banco suíço se acumulam A última vez que António Horta-Osório assumiu um novo cargo, mergulhou no meio de uma crise que abalava o maior banco de crédito hipotecário do Reino Unido. Dez anos depois, o executivo enfrenta um desafio ainda mais difícil.
De sua residência em Kensington, oeste de Londres, o atual CEO do Lloyds Banking se prepara para assumir a presidência do conselho do Credit Suisse em maio, substituindo Urs Rohner enquanto os escândalos no banco suíço continuam a se acumular.
“Temos que continuamente tentar enfrentar novos desafios”, disse Horta-Osório em entrevista à Bloomberg TV nesta segunda-feira. “Caso contrário, começamos a decair.”
O banqueiro português assumiu o posto de CEO do Lloyds em 2011 e começou a trabalhar para resolver os problemas criados pela aquisição tóxica do HBOS, que resultou em um resgate de 20,3 bilhões de libras (US$ 28 bilhões) durante a crise financeira. Ao longo de sua gestão, o executivo cortou milhares de empregos e bilhões de libras em custos, fechou unidades no exterior e restaurou a rentabilidade e o total controle privado do banco.
Agora, ele chega à Suíça em meio a uma crise de confiança. No mês passado, o Credit Suisse registrou baixa contábil de 4,4 bilhões de francos suíços (US$ 4,8 bilhões) e, desde então, viu a saída de vários altos executivos devido aos negócios com a Archegos Capital Management, semanas após o colapso da Greensill Capital. Dividendos foram cortados e recompras de ações suspensas. Analistas projetam mais perdas e possíveis multas. O valor de mercado do Credit Suisse encolheu cerca de 20% desde que apontou pela primeira vez problemas com a Archegos em 29 de março.
Horta-Osório “é exatamente o que o Credit Suisse precisa”, disse David Herro, da Harris Associates, que investe em ações do Lloyds e Credit Suisse há mais de 10 anos. “Ele sempre cumpriu suas promessas e comandou os detalhes.”
Em Zurique, o executivo deve se concentrar em se retirar de negócios de alto risco e baixo retorno, preservando talentos e controlando custos e riscos, disse Herro.
O banco suíço tenta descobrir o quanto sua liderança sabia e controlava esses riscos dos clientes. O comando de Horta-Osório, mesmo dos menores detalhes, pode ser valioso. No Lloyds, ele tinha conhecimento profundo de cada empréstimo importante, cliente corporativo e linha de negócios, disseram pessoas que trabalharam com ele. Como líder, valoriza a lealdade, juntamente com o respeito à hierarquia e aos processos estabelecidos, disseram as pessoas, que não quiseram ser identificadas.
O novo cargo traz Horta-Osório de volta a um banco de investimento após 15 anos focado em varejo, e retira o executivo da linha da frente para o papel de presidente do conselho. E, embora o Lloyds tenha evitado grandes aquisições nos últimos anos, acordos em breve poderão estar no topo de sua agenda na Suíça.
Horta-Osório trabalhará ao lado do CEO Thomas Gottstein, um banqueiro de longa data do Credit Suisse que assumiu o comando há 14 meses. “É função do presidente do conselho avaliar o desempenho do CEO”, disse Jamie Risso-Gill, diretor-gerente da empresa de recrutamento de executivos Per Ardua Associates, em Londres.
Competitivo
Horta-Osório e Gottstein têm 57 anos e ambos são formados em administração de empresas. No papel, pelo menos, as semelhanças terminam aí.
Antes de trabalhar no Lloyds, Horta-Osório dirigiu a unidade britânica do Banco Santander, além de ter atuado nos Estados Unidos, Portugal e Brasil para diversos bancos. Também tem fortes laços com Lisboa, sua cidade natal, para onde costumava viajar frequentemente. Horta-Osório gosta de mergulhar nas férias e de beber chá verde. Jogador de tênis competitivo, ele jogava todas as quartas-feiras no Queen’s Club, perto de sua casa em Londres.
Horta-Osório deixa o Lloyds como um dos CEOs do setor bancário mais duradouros da Europa, após uma década turbulenta para o segmento. Isso é tempo suficiente, disse.
“As pessoas não deveriam tentar se autoperpetuar nos cargos”, afirmou. “É bom para as empresas terem uma nova perspectiva.”
António Horta-Osorio, novo presidente do conselho do Credit Suisse
Chris Ratcliffe/Bloomberg