Itaú destruiu valor no crédito em 2020, com retorno de 5% e custo de capital de 12%
Impacto veio da necessidade de fazer provisões contra um esperado aumento da inadimplência diante do cenário incerto No ano da pandemia, o Itaú Unibanco destruiu valor em sua principal frente de negócios, o crédito. O retorno obtido com a atividade ficou em apenas 5% em 2020, bem abaixo do custo de capital com o qual a instituição trabalha, da ordem de 12% ao ano.
O impacto veio da necessidade de fazer provisões contra um esperado aumento da inadimplência diante do cenário incerto. O custo do crédito saltou de R$ 18,2 bilhões em 2019 para R$ 30,2 bilhões no ano passado. Os calotes ainda não vieram e, para 2021, o banco projeta um custo do crédito bem menor, ficando entre R$ 21,3 bilhões e R$ 24,3 bilhões.
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No ano passado, foram os serviços e, principalmente, as atividades de tesouraria que proporcionaram ao Itaú um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 14,5%, ainda acima do custo de capital. De acordo com apresentação do banco, o ROE das operações de trading foi de 61,4%, embora o peso delas seja pequeno para o resultado final. Em serviços e seguros, os acionistas do Itaú obtiveram retorno de 27,1% em termos gerenciais.
Consumo de provisões
O novo presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, afirmou nesta terça-feira, em teleconferência sobre os resultados do banco no quarto trimestre, que é natural que haja aumento da inadimplência na carteira prorrogada. Em setembro, essa inadimplência era de 8,9%, e em dezembro passou para 16,2%.
Segundo ele, a inadimplência em geral deve atingir um pico entre o fim deste ano e início de 2022, voltando para os níveis pré-pandemia, mas longe das máximas atingidas em outras crises.
Ainda assim, com esse aumento da inadimplência esperado ao longo de 2021, Maluhy diz que deve haver um consumo do estoque de provisões para devedores duvidosos (PDD) que o banco construiu ano passado.
Desafio do ROE
O executivo disse que o ponto médio do guidance fornecido pelo banco nesta manhã indica um ROE de 17,6%, 17,7% este ano, em comparação ao nível de 14,5% registrado em 2020.
“Olhando para frente, [elevar o ROE] é um desafio, temos muita pressão dos juros baixos. O custo de capital deve cair nos próximos anos, ainda temos espaço de trabalho no lado da eficiência”.
Ele foi questionado em teleconferência com analistas se a mudança nas regras de overhedge não poderia levar a uma redução na meta de capital de 13,5% do banco. Maluhy respondeu que ela de fato reduz a necessidade de capital, mas que existem outros fatores que podem aumentar essa necessidade. Um deles é que o banco tem grandes operações no exterior, que são afetadas pela desvalorização cambial.
“Ainda trabalhamos com um cenário cauteloso para este ano, temos o impacto da pandemia, [não sabemos exatamente] como será a recuperação, então preferimos manter um nível conservador de capital”. O executivo acrescentou ainda que a segregação da fatia na XP não deve ter impacto relevante em termos de capital.
Perguntando se poderia haver uma reversão de PDD este ano, ele disse que sim. “Nós trabalhamos com o modelo de perdas esperados e isso antecipou as provisões. O NPL [inadimplência] deve crescer este ano e vai consumir parte das provisões”, afirmou.
Balanço ‘pouco inspirador’
Os resultados do Itaú no quarto trimestre não animaram os investidores e as ações preferenciais do banco operavam em queda de 0,34%, aos R$ 28,95, bem atrás dos seus pares na bolsa, por volta das 11h30. Para efeito de comparação, no mesmo horário, Bradesco PN subia 0,62%. Bradesco ON avançava 1,11%. BB ON ganhava 0,44%, e as units de Santander, 0,61%.
De acordo com Henrique Esteter, analista de investimentos da Guide, o balanço do 4º trimestre foi importante para ajustar as expectativas de investidores. “O que o mercado viu é que a situação ainda é de recuperação muito lenta no setor”, disse Esteter. “Não diria que o resultado foi ruim, apenas não foi suficiente para revisões positivas ao setor.”
Para os analistas do Safra, os resultados do Itaú ficaram um pouco abaixo do esperado em algumas de suas principais linhas (provisões para perda em empréstimos, taxas e Opex). Com isso, o resultado final ficou aquém da expectativa do Safra em 3,4%. Ainda assim, esperamos números mais animadores para 2021, sustentados principalmente pela redução do custo do crédito, mas também pela recuperação da atividade econômica. Portanto, mantemos o rating de ‘Outperform’ [desempenho acima da média] para ITUB4 com preço-alvo de R$ 37,0.
Os analistas do BTG Pactual, por sua vez, afirmam que os resultados foram pouco inspiradores, apesar de alguns números positivos. Os empréstimos tiveram bom desempenho, apoiados pela carteira de crédito individual. A receita líquida de juros (NII) teve um desempenho um pouco melhor do que esperávamos, enquanto as taxas e o seguro foram um pouco pior, dizem. O controle de custos foi um destaque positivo, tendência que esperamos que todos os bancos brasileiros foquem nos próximos anos, dizem.
Por outro lado, eles apontam que o custo do crédito foi apenas 2% melhor na relação trimestral e 3% pior na comparação anual, quando a covid-19 ainda não afetava o mundo. Embora esperemos que as provisões diminuam e sejam o principal impulsionador do lucro por ação em 2021, o quarto trimestre pode ser uma indicação de que não há muito espaço para esperar muitas reversões, como as vistas em bancos americanos recentemente, acrescentam.