Caixa só aguarda aval do BC para lançar banco digital, diz Guimarães

Assim que autorizado, a nova instituição poderá abrir capital em IPO entre o fim de 2021 e começo de 2022 O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que a instituição está avançando bastante com o projeto de criação do seu banco digital, com base no aplicativo Caixa TEM. Só falta agora a aprovação do Banco Central. Ele estima que, assim que autorizado, a nova instituição poderá abrir capital (IPO, na sigla em inglês) entre o final deste ano e começo do ano que vem.
“Lançamento do banco digital só precisa de aprovação do BC, estamos avançando muito rápido”, disse. “Já temos a autorização da SEST para abrir uma empresa, mas não para ser um banco, que deve ser feita pelo Banco Central, apesar de já estarmos operando com um time focado. Mas assim que aprovado, eu estimo que, entre final deste ano e começo do ano que vem, terá listagem aqui no Brasil e provavelmente no exterior também, tamanha essa valorização que se dá à questão digital”, afirmou em teleconferência com jornalistas nesta quinta-feira sobre os resultados da Caixa em 2020.
O aplicativo Caixa TEM foi criado para liberar os pagamentos de auxílio emergencial principalmente no começo do ano e deve ser utilizado novamente, agora com as prováveis novas liberações, em uma base de já 38 milhões de beneficiados no Brasil todo. No ano passado, 28% das transações digitais em 2020, que somaram 14,4 bilhões foram por meio da Caixa Tem, o que ajudou a aumentar esse volume de transações de 7,7 bilhões em 2019 para os mais de R$ 14 bilhões.
“Para se ter uma ideia, mais da metade do cadastramento das chaves do Pix na caixa são do Caixa Tem”, disse.
Além da Caixa Tem, está em discussão a abertura de capital da asset da Caixa, que Guimarães acredita que possa ser feita em setembro deste ano e da bandeira Elo, que a Caixa detém participação. Já em andamento, estão o processo de IPO da Caixa Seguridade e o follow-on do banco Pan.
Questionado se há falta de interesse por ofertas de estatais, em função da interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando da Petrobras, o executivo negou e disse que há grande interesse pelo IPO da Caixa Seguridade e espera uma captação grande no varejo (pessoas físicas). “Teremos grande fatia de varejo, bem acima de 10%, no IPO da Caixa Seguridade”, disse Guimarães.
Resultado forte
O presidente da Caixa disse que o resultado do banco em 2020 “foi forte”, mas impactado pela pandemia e pela redução da receita com a gestão do FGTS. “Tivemos uma perda de R$ 2,5 bilhões na receita [com FGTS} em termos de lucro. Tivemos R$ 13 bilhões de lucro [no acumulado do ano]. Se desconsiderar FGTS, o lucro seria algo em torno de R$ 16 bilhões”, disse.

A Caixa registrou lucro contábil consolidado de R$ 5,671 bilhões no quarto trimestre de 2020, uma alta de 200% em relação ao terceiro trimestre e de 15,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em relação às recitas de tarifas e prestação de serviços, essas somaram R$ 6,205 bilhões no quarto trimestre, com alta de 1,5% no trimestre e queda de 9,4% no ano.

Guimarães apontou como destaque para o resultado financeiro o crédito imobiliário. No último trimestre, a carteira de crédito ampla do banco chegou a R$ 787,422 bilhões em dezembro, expansão de 4,1% sobre setembro e de 13,5% na comparação com dezembro de 2019. Somente a carteira de crédito imobiliário chegou a R$ 510,636 bilhões em dezembro, com alta de 2,4% sobre setembro e 9,8% na comparação com dezembro de 2019.

Andre Coelho/Valor

Para Guimarães, o crescimento principalmente entre pequenas empresas mostra que a Caixa tem esse segmento no foco. Ao pulverizar sua carteira, saindo do crédito para grandes empresas e com quase 300 mil MPEs, isso também possibilitou diluir os riscos de calotes, ajudando para que a inadimplência fosse “a menor de todos os tempos”.

Questionado sobre os efeitos da nova onda de coronavírus e se isso poderia incitar aumento da inadimplência e necessidade de novas provisões para perdas no crédito, Guimarães disse que não acredita nisso. “Não vemos necessidade de alta de provisionamento”, disse. Segundo ele, a inadimplência deve subir, mas trata-se apenas de uma “normalização”, para o patamar de 3%, já que atualmente ela está na mínima histórica de 1,73%.

Ele comentou ainda que havia uma “grande dúvida” sobre o que aconteceria após o fim da pausa nos pagamentos de financiamentos para ajudar a mitigar os efeitos da crise com a pandemia, mas alegou que 99,7% já voltaram a pagar.
ROE extraordinário
Guimarães afirmou que um retorno sobre o patrimônio (ROE) “normal” do banco seria em torno de 12%. Nesse sentido, ele disse que o ROE de 15,2% no quarto trimestre de 2020 foi extraordinário.
“Não é que é um ROE não recorrente, mas não é o retorno sobre o patrimônio que esperamos. O que esperamos é algo ao redor de 12%. Qualquer coisa acima disso está acima do que esperamos do ponto de vista ‘normal’”, comentou.
Segundo ele, alguns efeitos reduziram o resultado da Caixa no ano passado, como a necessidade de focar no pagamento do auxílio emergencial. “Em abril e maio o banco parou, teve uma queda muito grande de receitas”.
Mesmo assim, Guimarães ressaltou que um ROE de 12% é muito acima do “custo de oportunidade”, citando a Selic a 2,75%. “Temos um banco muito rentável, apesar de reduzirmos fortemente as taxas de juros em todos os segmentos que atuamos”.
IHCD
O presidente da Caixa afirmou que o banco pretende realizar este ano o pagamento de instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD), que o governo utilizou para capitalizar a instituição. Isso inclusive já foi aprovado pela diretoria, mas ainda precisa passar pelo Banco Central e Tesouro Nacional.
“Só não pagamos IHCD em 2020 por causa da pandemia, mas queremos pagar este ano sim. Já temos um valor aprovado, com base no balanço de 2020, e havendo os IPOs que prevemos [de subsidiárias da Caixa] teremos mais recursos para pagar esses instrumentos”, afirmou.
Sobre a nova rodada do auxílio emergencial, ele disse que a Caixa já tem um cronograma interno para o pagamento, mas que a divulgação ainda depende da aprovação final do presidente Jair Bolsonaro, o que deve acontecer em breve.
Guimarães também comentou que o banco continuará com foco em micro e pequenas empresas (MPEs), independentemente de existirem novas rodadas de programas federais, como o Pronampe. Ele ressaltou que atualmente a Caixa tem relacionamento com quase 300 mil MPEs, sendo que 80% não eram clientes do banco antes de 2019.
O executivo disse ainda que a Caixa pode abrir até 400 agências em cidades com mais de 20 mil habitantes, mas com a condição que as prefeituras migrem seus negócios de folha de pagamentos e fundos para o banco, porque sem isso essas agências não são rentáveis. “Pelas conversamos que estamos tendo com os prefeitos, devemos fazer isso em pelo menos 100 cidades”.

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