Moedas digitais de governos correm sério risco de fracassar, alertam economistas

As autoridades financeiras de muitos países ao redor do mundo estão estudando e experimentando as chamadas CBDCs, moedas digitais de bancos centrais. Contudo, segundo os economistas Peter Bofinger e Thomas Hass, esse tipo de criptomoeda corre o risco de fracassar em seu objetivo principal. Um dos argumentos é a posterior e inevitável competição com as moedas digitais descentralizadas e serviços de bancos privados.

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Banco Central Britânico discute a criação de uma moeda digital nacional (Imagem: davidcuen/Flickr)
Bancos centrais de todo o mundo buscam criar suas próprias criptomoedas centralizadas e estatais com o objetivo de implementá-las como moedas de troca. Contudo, o novo estudo argumenta que muito provavelmente as CBDCs falhem nessa função, mas possivelmente tenham sucesso como reserva de valor para grandes investidores institucionais.
Os pesquisadores Peter Bofinger e Thomas Hass, do departamento de Economia da Universidade de Wuerzburg na Alemanha, publicaram um estudo na VoxEU, plataforma de pesquisa e análise financeira. Eles acreditam que o esforço dos bancos centrais em criar moedas digitais focadas em trocas pode ser em vão. Segundo os especialistas, não há “justificativa óbvia” para a criação de CBDCs como estão sendo formuladas.
O que são CBDCs?
As moedas digitais de bancos centrais são essencialmente criptomoedas centralizadas e que podem ter objetivos e funções diferentes. Segundo os pesquisadores, uma CBDC pode ser vista como “um depósito em um banco central que é usado dentro da estrutura dos sistemas de pagamento de liquidação bruta em tempo real (LBTR) existentes”.
Outro possível uso delas seria “como um sistema de pagamento independente que opera em paralelo ao tradicional já existente, usando depósitos mantidos no banco central.”
De maneira simplificada, esse tipo de criptomoeda pode ser usada para algumas finalidades. Elas podem servir como um depósito para reserva de valor, como forma de pagamento digital geral ou como moeda de troca entre produtos digitais dentro da estrutura regulamentada pelo banco central em questão.
Estruturas privadas geram competição
Os bancos centrais buscam uma alternativa mais estável à atual natureza especulativa de criptomoedas descentralizadas. Por isso as moedas digitais estatais poderiam, em tese, solucionar esse problema e criar um sistema de pagamentos digitais estável, mas somente em âmbito nacional. “Eles têm que mostrar que os objetivos que buscam com as CBDCs não são satisfatoriamente alcançados pelos provedores privados”, escrevem Bofinger e Hass.
Entretanto, para os pesquisadores, mesmo que esses objetivos sejam alcançados para gerar estabilidade financeira e um sistema concreto de pagamentos digitais, as CBDCs ainda não seriam a melhor opção ou solução para o que se propõem.
Para eles, não há motivo para alguém querer mudar de um banco ou sistema de pagamentos privado (como já existem muitos) para um nacional. Eles concluem que um banco central simplesmente não pode oferecer a mesma variedade de funções e produtos que o mercado financeiro privado.
Além disso, um sistema exclusivamente destinado ao mercado doméstico não pode competir com grande provedores de serviços financeiros globais e com criptomoedas que podem ser transacionadas internacionalmente. Por fim, o objetivo de alcançar moedas de troca digitais vinculadas ao estado seria o direcionamento errado.
CBDCs poderiam funcionar como reserva de valor
Para os autores da pesquisa, a melhor forma de uso de moedas digitais estatais como são propostas hoje seria para guardar dinheiro de maneira estável. “A demanda por uma CBDC de reserva de valor viria de empresas e grandes investidores com depósitos bancários de mais de € 100.000, que seriam resgatados no caso de uma reestruturação bancária”, aponta a pesquisa.
Contudo, mesmo com uma mudança de direcionamento, as CBDCs teriam pouca influência na economia internacional atual. Sistemas de pagamentos globais, como o PayPal que inclui hoje até mesmo as criptomoedas, continuariam dominantes. Enquanto isso, para fins de reserva de dinheiro, ainda há muitas alternativas de ativos, investimentos e moedas digitais.
Com informações: Decrypt
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